Vasco: E os aplausos não param

Enquanto o Vasco ainda existia, eu fui feliz. Muito feliz. Torcia, sem dúvida, pelo melhor clube do mundo.

Por Wevergton Brito Lima*

Como dizia o jornalista Sérgio Cabral (pai), ninguém escolhe o time do coração por motivos racionais, mas se o fizesse, o escolhido seria o Vasco, clube com a mais bela história do Brasil, que enfrentou e venceu os preconceitos dos times racistas da Zona Sul (Flamengo, Fluminense, Botafogo) e se impôs com a força do povo, mesmo remando contra a maré da mídia, sempre alinhada aos clubes da elite.

Comecei a acompanhar o Vasco, com a paixão instantânea e intensa de uma criança, em 1976.

Quando aprendi sobre a história do meu time, o que era paixão se transformou em amor. Um amor que foi plenamente correspondido.

Vi o Gigante conquistar 18 campeonatos, sendo que destes, 13 comemorei os títulos nas arquibancadas.

Naquela época de conquistas e vitórias, o Vasco tinha uma torcida vigilante, exigente e combativa.

Empate jogando em casa, não importa o adversário, era motivo de protestos. Derrota era a senha para uma tempestade de críticas que não poupava ninguém (presidente, jogador, treinador). Derrota para times pequenos era o início de uma crise. O vascaíno, orgulhoso, só admitia vitórias em sequência.

A mídia, principalmente o jornal O Globo, cuja família proprietária é de rubro-negros fanáticos, figadais adversários do Vasco, não gostava da empáfia deste clube suburbano e fazia tudo para diminuir o gigante e inflar os adversários, principalmente o Flamengo.

Os vascaínos da minha geração sabem bem o que é isso. Vejam a primeira página do jornal O Globo, no dia seguinte à conquista do campeonato carioca de 1986 pelo Flamengo em cima do Vasco:

No ano seguinte, o Vasco dá o troco e conquista o carioca em cima do Flamengo. Capa de O Globo:

Nada de Cristo Redentor com a camisa do Vasco, nada de “poster colorido dos campeões cariocas”. Apenas a manchete burocrática, que soa quase como um lamento: “Vasco campeão 87”. No ano seguinte, 1988, o Vasco é bicampeão, de novo em cima do Flamengo. Vejam a capa do dia seguinte à conquista:

Era daí para pior. Aliás, no belo livro de Leandro Fontes, “Vasco – O Clube do Povo”, ele publica, na página 128, o fac-símile da primeira página do extinto jornal O Radical, com a manchete: “Uma apotheose, o regresso de S. Paulo do presidente do Vasco”. O jornal falava da recepção da torcida ao então presidente vascaíno Victor de Moraes, que voltava de São Paulo com o título de Campeão de Terra e Mar. Na foto publicada pelo jornal vê-se os torcedores segurando uma faixa onde se lê: “Salve o CR Vasco da Gama. Abaixo O Globo”. O ano? 1934. Portanto, amigos, a perseguição não começou, conforme sempre te contaram, com a logo do SBT na camisa em 2000. Ela tem outras motivações, que não é nosso tema aqui.

Assim como os vascaínos das décadas de 1920 e 1930, os que vierem depois não dobraram a espinha e combatiam os preconceitos e as dificuldades com altivez.

E no que se transformou a torcida do Vasco, hoje?

Uma torcida que se deixa enganar facilmente e aceita tudo com a resignação de uma ovelha. Parece mais fácil enganar a torcida do Vasco do que roubar o pirulito de uma criança.

O Vasco caí para a Série B em 2021. Reação? Aplausos.

O Vasco permanece na Série B em 2021. Reação? Aplausos.

Com o pretexto de uma crise prolongada, que outros clubes, mesmo sem ter a torcida e o patrimônio do Vasco, superaram com suas próprias forças, vendem o futebol do clube em 2022 em um processo relâmpago, com contrato secreto, para uma empresa suspeitíssima, recém fundada. Reação? Aplausos.

Vasco passa vergonha em todos os campeonatos e sobe para série A em 2022 na bacia das almas. Reação? Aplausos.

Ao contrário da promessa dos compradores, 2023 também foi de vergonha absoluta em campo. Fomos eliminados da Copa do Brasil pelo ABC, que terminou em último na Série B, passamos boa parte do campeonato brasileiro na zona do rebaixamento e na reta final estamos de novo correndo o risco de cair para a Série B. Reação? Candidato do Salgado, que é ex-funcionário da Globo (ex?), vence a eleição. Talvez em caso único do mundo em que uma gestão totalmente desastrosa elege o sucessor. Mais aplausos.

O ex-funcionário da Globo (ex?), eleito presidente, já disse que o Vasco tem muitas dívidas (mas não estávamos milionários?), discurso que é a senha para vender 20% dos 30% do futebol que ainda restam sob controle do antigo CRVG, além de São Januário, cuja doação todos sabem que é questão de tempo. Reação? Aplausos.

Destruição total do antigo CRVG e os vascaínos que fundaram o Clube, que venceram o preconceito, que construíram São Januário, que lutaram contra a Globo, que fiquem se remoendo no túmulo. Como disse recentemente um comentarista do grupo Globo, que a empresa considera “a voz da torcida”, alcunhado de João Almirante, defensor alucinado de todo esse processo: “clube de português FDP!”. Reação? Aplausos.

É isso. Aplaudem ofensas, aplaudem empate com o CRB, aplaudem empate com o Bahia e aplaudem derrota para o Flamengo.

Como isso aconteceu? É tema para um livro, talvez.

Penso na seguinte cena: um ator muito famoso e talentoso está declamando um monólogo. De repente, dos bastidores, surge alguém com uma faca e desfere vários golpes no ator que caí em cena. A plateia aplaude de pé.

– Que atuação!

– Magistral!

– Bravo!

Gritam, em meio aos aplausos.

Até que alguém percebe que algo está errado, sobe ao palco e começa a socorrer o ator, muito ferido. Quando o público entende o que aconteceu, parte da plateia fica paralisada, enquanto outra se lança ao encalço do criminoso.

Se fosse a torcida do Vasco, estaria aplaudindo até fecharem a cortina e alguém recolher o corpo sem vida.

O que, aliás, é o que temo que aconteça.

* Jornalista

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4 comentários

  1. A culpa de tudo que ocorre no Vasco é da própria torcida. A torcida do Vasco é ridícula, já tem torcedor culpando o Eurico por uma possível queda em 2023. A torcida do Vasco votou na continuação do Salgado, ou seja, meu amigo Brito, esqueça.

    O Vasco acabou! Viramos um timeco de quinta categoria com uma torcida de décima categoria.

  2. Grande Wewerton!

    Sua paixão pelo nosso amado Vasco da Gama me sensibiliza, como também aos demais vascainos.

    Não sobram dúvidas que o Vasco da Gama é de fato o time das multidões, que desperta paixões a todo momento, independentemente da situação que o time de futebol atravessa. Digo isso, porque no amado clube não vem tendo uma atuação magnifica, grande parte em função dos péssimos dirigentes e administradores dos últimos anos, cumprindo esclarecer, infelizmente, que a gestão ainda vigente, simplesmente VENDEU nosso futebol.

    Me tornei vascaíno por escolha da bela história do nosso club. Minha familia é do interior de Minas Gerais, da bela cidade de Araxá, e ninguém torcia pelo
    Vasco, haja vista que, nos idos da década de 60/70, na minha região os times paulistas, como Santos, Corinthians e outros, como o Atletico e o Cruzeiro, tinham a preferência dos meus conterrâneos.

    Assim, vim morar nessa bela cidade do Rio de Janeiro com doze anos, em 1972, e tão logo tomei conhecimento do futebol crioca tive o prazer de ler sobre a bela história do nosso grande Vasco da Gama, em especial a luta contra o preconceito racial, sem falar que tínhamos, naquela época, um plantel maravilhoso que disputava todos os títulos.

    Sou vascaíno por escolha escolha do melhor e mais popular time do Brasil. Vamos `luta para continuarmos na primeirona.

    Abraços.

    Mário Borges

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