O Clube da Gávea deu as costas às famílias das vítimas do incêndio no Centro de Treinamento Ninho do Urubu. Nesta terça-feira (19) o rubro negro carioca comunicou (por telefone!) que recusava a proposta de reparação calculada por três órgãos públicos, o que significa que agora os familiares dos garotos que morreram, para receber alguma coisa, irão esperar durante anos o desfecho de uma longa batalha judicial. Leia a nota emitida pelas entidades:

“A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público do Trabalho informam que, esgotadas todas as tentativas de negociação, o Clube de Regatas do Flamengo recusou-se a celebrar um acordo de reparação às vítimas do incêndio ocorrido no Centro de Treinamento Ninho do Urubu com as instituições acima referidas. Os valores apresentados pelo clube estão aquém daquilo que as instituições entendem como minimamente razoável diante da enorme perda das famílias e demais envolvidos. A recusa do acordo foi informada por meio de ligação telefônica às 19h desta terça-feira (19)”.

Diante disso, o que faz a Globo? Iria ela ficar parada diante do perigo para a imagem de “seu clube” que tal atitude pode provocar? Jamais. Ela adota a velha tática diversionista de direcionar a atenção para outro alvo e publica, nesta quarta-feira (20), em seu site, a matéria “Sete anos depois, família de garoto que morreu em teste no Vasco ainda busca indenização”.

A forçada de barra é imensa, mas a cara de pau da Globo é maior. Reparem como é o início da matéria: “Em meio às primeiras e frustradas tratativas de indenizações de vítimas do incêndio que causou 10 mortes no CT do Flamengo, um caso que marcou o rival anda a passos lentos há sete anos”.

Ora, Wendel Junior, o garoto que lamentavelmente morreu em 2012, não era atleta do Vasco. Morreu ao participar de um teste onde poderia ou não ser escolhido para treinar nas categorias de base. Com 15 minutos de treinamento ele faleceu e o laudo da necropsia diz que as causas foram “problemas cardíacos e bronquite crônica” patologias que certamente não foram contraídas em 15 minutos de treinamento. O que tem isso a ver com a morte de DEZ JOVENS ATLETAS DO FLAMENGO, que estavam sob a responsabilidade do Clube e morreram, de acordo com todos os indícios até agora, por negligência da direção?

Enfim, enquanto alguns preferem fazer genuflexões diante do Flamengo, buscando o aplauso do Galvão Bueno, o ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, coloca a questão como se deve. Nesta terça-feira o ex-dirigente do Galo (e atual prefeito de Belo Horizonte) declarou ao Lance que o Flamengo é “uma invenção midiática” e completou: “O Flamengo é o Flamengo porque a televisão insiste nisso. Isso é culpa da televisão”.

Nelson Rodrigues e suas frases…

Lembrei do dramaturgo e jornalista tricolor ao ver uma foto da homenagem que os vice-presidentes do Vasco prestaram a Alexandre Campello nesta terça-feira pelo transcurso de um ano de seu mandato à frente do Clube. Realmente, comovente. Ainda mais ao recordarmos que no momento da eleição do Campello vários deles saudaram o novo presidente com impropérios cujo mais suave era “traidor”, sendo que houve até uma ameaça de tentativa de agressão.

A frase do Nelson que me veio a mente foi: “O dinheiro compra até o amor sincero”. Troque a palavra “dinheiro” por “poder” e a legenda seria perfeita para a ocasião.

Wevergton Brito Lima, jornalista