As polêmicas vascaínas e a parábola do dono do Burro

Era uma vez um homem que viajava montado em seu burro. O animal ia devagar, sendo puxado pelo cabresto por um menino, filho do dono do burro. A viagem transcorria sem novidades até que o homem ouve um comentário vindo da beira da estrada: “Reparem na cena absurda: o homem vai refastelado no burro enquanto seu pobre filhinho, com as pernas curtas, sofre puxando o animal. Que pai desnaturado!”.

O dono do burro ficou bastante incomodado com estas palavras e imediatamente trocou de lugar com o menino. Não haviam andado nem meia légua quando novo comentário vem da beira da estrada: “Este mundo está perdido, as novas gerações não respeitam mais nada. Vejam, o jovem, na flor da idade, vai confortavelmente instalado, enquanto seu velho pai sofre no sol escaldante, puxando o burro. Que garoto mimado!”.

O dono do burro, inconformado com a crítica, decide então que ele e o filho irão montados no burro. Transcorridos menos que dez minutos ele escuta alguém falar: “Que crueldade absurda. Olhem senhores, o pobre animal mal consegue andar, vergado sob o peso de dois folgazões que não estão nem aí para o sofrimento do pobre burro”.

Estupefato, o dono do burro toma a decisão final: ele e o filho, quase morrendo, carregam o burro nas costas até o final da jornada, para riso e espanto dos que assistem a cena.

Esta historinha antiga tem uma mensagem muito clara: quem muda de atitude motivado apenas pela opinião alheia, e não defende suas próprias ideias, além de oportunista é incapaz de tomar as melhores decisões.

Infelizmente, no Brasil e no Mundo, nesta época de “influenciadores digitais”, o que mais existe é “Dono do Burro”, remando sempre a favor da maré.

Na política do Vasco não é diferente. Temos um presidente que é o “dono do Burro” clássico e figuras da “oposição” cujo único critério para determinar o valor de uma atitude é a aprovação da mídia e por consequência, das redes.

Na última polêmica sobre a bandeira do Flamengo no uniforme do Vasco, logo depois de anunciado o fato, pouco antes do Vasco e Resende, os vascaínos se dividiram: uma parte condenando a iniciativa e a outra parte apoiando. Este último grupo, apesar de extremamente equivocado (segundo minha opinião), merece todo o respeito, pois opinou de acordo com seu próprio discernimento. Outro grupo, eu me incluo nesta, protestou, o que também é um direito.

Mas existem os “Donos do Burro” que pautam suas atitudes tendo em conta somente critérios de marketing pessoal.

Um deles, queridinho das redes, assim que soube da bandeira do Flamengo na camisa do Vasco, ficou revoltado. Eu acompanhei de perto isso e posso contar o milagre sem dizer o nome do Santo. O “santo” em questão vociferava que ia fazer e acontecer. Até que a mídia – encantada e talvez mal acreditando em ver o Vasco corroborar seu esforço de transformar o réu Flamengo em pobre vítima das circunstâncias – começou sua campanha demagógica nauseante.

A Globo – esta antiga amiga e defensora do Vasco – entrou de cabeça na dança. Galvão Bueno decretou: “espetacular decisão da diretoria do Vasco de colocar a bandeira do Fla na camisa (…) linda a atitude do Vasco”.

Pronto, imediatamente, o queridinho das redes enfunou as velas na direção dos ventos e mudou de opinião, passando a procurar jeitos e termos para justificar publicamente o que em privado condenava.

Certos vascaínos, que se julgam inteligentes e críticos, por ironia do destino caem na esparrela e consideram o que claramente é oportunismo e hipocrisia como sensatez e habilidade.

Eu, de minha parte, saúdo todos os que não traficam suas convicções em troca de aplausos fáceis.

Neste sentido, mesmo correndo o risco de desagradar a uns e outros, confesso que minha torcida, para o bem do Vasco, é para que os “vascaínos midiáticos”, logo, logo, desabem ao peso do burro.

Wevergton Brito Lima, jornalista

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