
Por João Carlos Nóbrega
No início de 2024, deixei o quadro social do Vasco porque, entre outros motivos, não reconheço naquilo que sobrou qualquer vestígio das bases, tradições e princípios que sustentaram a fundação do clube. A venda do futebol da forma como foi feita ceifou a alma da Instituição. Seguir como membro nato do conselho de um clube que abdicou das suas origens era uma traição ao sangue da minha família e, em última análise, ao próprio Vasco original.
Não obstante, conviver com quem promoveu a destruição do Vasco se tornou impossível, na medida em que uma das vantagens de amadurecer é aprender a se afastar de quem não merece respeito.
O afastamento, logicamente, veio acompanhado por desesperança. Ainda hoje tenho dificuldades em projetar que o Vasco pode retomar os seus caminhos, historicamente difíceis, mas evidentemente dignos e vitoriosos.
As previsões sombrias, inclusive a respeito de extinção, que pode ser antecipada por uma recuperação judicial pilotada por uma das camadas de aventureiros que pousaram no clube, só recebem aditivos desoladores, como os anseios de revenda a qualquer preço, ainda que o preço até aqui tenha sido cobrado apenas dos vascaínos.
Neste cenário, o normal seria o recolhimento definitivo. No entanto, há sempre no horizonte um fio de esperança. Neste sentido, seja através de uma retomada de rumo, seja por meio de um recomeço imposto, volta e meia sopra um discreto otimismo relativo a alguma chance de mudança para o reencontro.
Esse vento, em boa medida, precisa de ações externas que o provoquem. E, no meu caso, o sutil sopro de esperança foi trazido, para além de ações pontuais, pelo Movimento Vasco do Povo.
Composto por vascaínos que pensam o Vasco de forma diferente, oriundos e simpatizantes de diversos grupos políticos ou politicamente avulsos, o grupo decidiu se unir com o foco único de retomada dos nossos princípios. Não há mote eleitoral, não há candidaturas na próxima esquina, não há formação de base eleitoral. Há apenas desejo pelo reencontro e pela reconexão do Vasco consigo mesmo.
Entendo que vale à pena, portanto, compreender do que se trata este movimento. No próximo sábado, 10h, no Espaço Candinho, talvez estejamos diante da última chance de reencontro com o Vasco original. Convidados pelo Martinho e abraçados a um resto de esperança, nos vemos por lá.